quarta-feira, 12 de setembro de 2012

VOCÊ SABE O QUE NEOFILIA?

Será que você padece de Neofilia? Senão, certamente conhece alguém assim…
Vivemos na era da informação e nunca foi tão fácil o acesso ao conhecimento. Todos os dias somos constantemente bombardeados por notícias oriundas dos quatro cantos do mundo. Hoje tomamos conhecimento de um furacão que assola o golfo do México, de um terremoto nas ilhas do Pacífico, de uma leve queda na bolsa de Nova York. A
 preocupação de nos mantermos informados é cada vez maior. Por outro lado, parece que o homem nunca foi tão desconhecedor da essência das coisas e, de modo especial, daquelas que se passam em seu próprio interior…
Tal facilidade de acesso à informação acabou também por gerar uma certa banalização do saber. O tempo tem se tornado cada vez mais curto e, entretanto, muitas são as coisas que se deseja conhecer. Seguindo esta tendência, a imprensa então passou a narrar os fatos de modo cada vez mais suscinto, rápido e simplista. São as denominadas pílulas da informação. E sobre a razão disto, os publicitários argumentam que qualquer informação um pouco mais profunda ou que apresente uma maior riqueza de detalhes poderá vir a fadigar o leitor. Sendo assim, quanto menor for a notícia, tanto maior será a probalidade dela ser lida.
Com efeito, esta hipertrofia da informação também está atingindo os ambientes acadêmicos. Os especialistas afirmam que os professores que vão ensinar a esta nova ”geração da imagem”, devem sempre fazer uso de novos métodos, de novas ferramentas didáticas para tentar atrair a atenção dos alunos: “Parece que o culto à magreza também atingiu os meios acadêmicos. Os livros, os artigos, as conferências devem ser curtas, ninguém dispõe de muito tempo para ler ou ouvir. O único modo de sobreviver está em ser rápido, curto”.
Todavia, para que a informação possa realmente alcançar o grande público, não basta que ela seja breve ou simples. Ela também deve vir acompanhada de outro elemento que para as atuais gerações têm se tornado algo verdadeiramente indispensável. Tal elemento é o que comumente denominamos de “novidade”. A indústria do entretenimento há muito tempo está atenta a este fenômeno. Eles sabem que existe um público que sempre está atrás do novo computador, do novo celular, do novo aparelho de mp3. O principal problema é que estes que procuram a mais recente novidade, ainda não foram capazes de utilizar todos os recursos do seu aparelho anterior. Eles anseiam o novo pelo simples fato de ser novo. Enquanto que para alguns este desejo de possuir o último lançamento não oferece alguma consequência mais profunda, para outros, tal ânsia de novidades vai se transformando numa verdadeira obcessão.
Segundo a Associação de Psiquiatria Americana, este problema já tem um nome e pode ser considerado como uma das mais maiores “enfermidades psicológicas” do século XXI. Ela se chama neofilia, um neologismo latino que significa “amor à novidade”. O seu principal “sintoma” consiste neste irrefreável desejo de possuir tudo que é novo, principalmente naquilo que se refere ao campo da cibernética. Com efeito, para saber se você padece de neofilia, analise a si mesmo de acordo com as frases que se seguem:
Comprou um celular e mesmo ainda sem saber utilizar todos os recursos do seu atual aparelho, já está pensando em comprar outro.
Quando vai ao supermercado, sempre passa no setor dos eletrônicos para ver a “última novidade”.
Procura acompanhar pela imprensa todos os “lançamentos cibernéticos” e, ao saber que algum amigo vai fazer uma viagem ao exterior, sempre pede que ele lhe compre alguma coisa.
Deseja trocar de computador a cada seis meses.
Revê sua caixa de emails diversas vezes ao dia e se entristece quando não encontra nenhum para ler.
Ao possuir qualquer aparelho eletrônico, em pouco tempo se decepciona com aquele que tem considerando-o extremamente lento e obsoleto. Em seguida, deposita toda a sua esperança no novo lançamento.
É propenso a acreditar que tudo aquilo que vem escrito: “novo” ou: “último lançamento” deve ser necessariamente considerado como melhor.
Não resiste em ver um amigo com algum aparelho que você ainda não tem. Logo pergunta onde ele comprou, bem como quanto pagou por ele.
Armazena milhares de arquivos musicais sem jamais ter tipo tempo de ouvi-los todos. A sua alegria está em somente dizer que possui um grande acervo musical.
Costuma criticar aqueles seus amigos que não sabem fazer uso destas novas tecnologias.
Sempre está baixando novos programas na internet que prometem a “solução para todos os seus problemas”.
Uma recente pesquisa realizada por cientistas americanos afirma que este excesso de informações está mudando a nossa maneira de pensar e agir. Muitas pessoas consomem até 12 horas por dia na internet checando e-mails, recebendo ligações e torpedos de celulares e “sendo abastecido de novidades das mais diferentes fontes”. Um recente artigo sobre esta temática publicado no Jornal o Globo afirma:
“Essa sobrecarga de informações pode mudar a maneira como as pessoas pensam e se comportam, dizem os cientistas. Eles argumentam que nossa habilidade para focar está sendo minada pelo excesso de informações. O que acaba acontecendo é que as pessoas têm o impulso primitivo de responder às oportunidades imediatas e às ameaças. A superestimulação provoca excitação – e gera a produção de dopamina – que os pesquisadores dizem que pode ser viciante. Na sua ausência, as pessoas sentem-se entediadas” (O Globo,Excesso de informações provocado pelo avanço da tecnologia altera capacidade de concentração. Publicada em 07/06/2010 às 12h19m. O Globo com The New York Times).
Bulimia Intelectual ou Síndrome de Fausto
Enquanto a neofilia se identifica com o consumismo ou então com o irrefreável desejo de novidades, existe também outra “enfermidade” que embora sendo menos frequente, também representa um dos traços marcantes de nossa época. Ela é conhecida como “bulimia intelectual” e está associada ao exagerado desejo de tudo conhecer. Por esta razão, alguns autores também a denominam de “síndrome de Fausto”. Tal “patologia” recebeu este nome em função da amarga lamentação do personagem Fausto, na obra homônima. Goethe descreve muito bem o percurso final daquele que se entrega ao irrefreável desejo de tudo conhecer
… Ah! Já estudei Filosofia, Jurisprudência, Medicina e também, por desgraça, Teologia. Tudo isto em profundidade extrema e com grande esforço. E agora me vejo, pobre louco, sem saber mais do que no princípio. Tenho os títulos de Mestre e de Doutor e fará dez anos que arrasto meus discípulos para cima e para baixo, em direção reta ou curva, e vejo que não sabemos nada. Isto consome meu coração. Claro está que sou mais sábio do que todos esses néscios doutores, mestres, escritores e frades; não me atormentam nem os escrúpulos nem as dúvidas, não temo o inferno e nem o demônio. Entretanto, me sinto privado de toda alegria; não creio saber nada com sentido, nem me orgulho de poder ensinar algo que melhore a vida dos homens e mude o seu rumo. Não tenho bens nem dinheiro, nem honra, nem distinções diante do mundo. Nem sequer um cão queria viver nestas circunstâncias. Por esta razão me entreguei à magia: para ver se pela força e a palavra do espírito me são revelados certos mistérios; para não ter que dizer com amargo suor o que não sei; para conseguir reconhecer o que o mundo contém em seu interior…
Caríssimo leitor, se você não padece de neofilia ou Síndrome de Fausto, ao menos uma coisa é certa. Você certamente conhece alguém assim.
(Inácio Almeida)

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