quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Futebol : VI-ba !

Na Bahia, minha terra natal se joga um clássico e se chama : VI-ba que quer dizer VITÓRIA vence o bahia( letra minúscula por se tratar do já-ia ,o outro time local e não do Estado brasileiro)

Mas de vez em quando a lógica se inverte e dá  o que chamam : de " ba-VI ", ou seja, não é que o bahia não perdeu do VITÓRIA ??

Foi exatamente isso que aconteceu ontem : SEMPRE VITÓRIA E JAMAIS JÁ-IA !!!!!!!!!......

Saúde Mental e Alcoolismo !

Caros Amigos, Caros Irmãos Bom Dia !

Na expectativa de estar em viagem neste mês de outubro em mantive a minha agenda em branco. Porém agora, foco total na minha militância na área da Saúde Mental focada no Alcoolismo. Estarei bem menos por aqui no facebook Insha ALLAH ! 
Olha só o que tenho pela frente :

Cursos : Prevenção do uso de álcool e outras drogas no ambiente de trabalho !

Fé na Prevenção : Prevenção do Uso de Drogas em Instituições Religiosas e Movimentos Afins.

Leitura e estudo dos livros :

A) Alcoologia- O alcoolismo na perspectiva da Saúde Pública.
 Alcool e Drogas na História do Brasil.
C) A história natural do alcoolismo.
D) Drogas : Subsídios para uma discussão.
E) Toda a literatura de Alcoólicos Anônimos.

Trabalho para toda a vida. Assalamu Alaikum !

terça-feira, 1 de outubro de 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

DANIEL ALVES : QUEM NÃO GOSTARIA DE TE-LO COMO AMIGO ?

O mundo do futebol, conhecido como uma grande arena onde não há espaço para grandes amizades entre os chamados " Top " do esporte foi chacoalhado por uma belíssima história de amizade entre dois atletas que jogaram juntos no Barcelona , um dos clubes mais ricos e poderosos do planeta.
Daniel Alves, brasileiro, cristão e mais conhecido no mundo esportivo como Dani Alves , o lateral direito da seleção brasileira. O outro chama-se Éric Sylvain Abidal , francês , muçulmano, lateral esquerdo  e também zagueiro da seleção de seu país.  Abidal , afastado por 402 dias para se tratar de um câncer e que a cinco meses retornou aos gramados pelo Mônaco da França ,revelou ao mundo que o brasileiro havia oferecido parte do seu próprio fígado para salvar a  sua vida.  Abidal não aceitou a proposta do amigo por ele ser um atleta no auge da carreira .  Procurado pela imprensa mundial neste final de semana, veja algumas declarações do bom baiano Dani Alves sobre o caso : em primeiro lugar, ele afirmou que " .. se o amigo não tornasse essa situação pública ninguém ficaria sabendo, pois ele jamais pensou em se aproveitar  da situação e que se fosse necessário  faria tudo de novo.  Falou ainda sobre o amigo e sua família : " minha vontade era apenas ajudar , pela admiração que eu tenho por ele e sua família , filhas e esposa".  Ainda sobre o amigo : " ... mas aparece uma pessoa na sua vida que te soma até mais que um parente. Abidal é uma dessas pessoas que DEUS colocou em minha vida ".   Comentou ainda sobre o risco de por fim a sua carreira se a sua proposta tivesse sido aceita pelo amigo : " Quando a vida está em jogo, o futebol fica em segundo plano " e disse mais,  " DEUS me deu inteligência e força para me dar alternativas para que possa viver até sem o futebol, sabendo que ele seria eternamente agradecido por isso . Se tivesse de fazer isso para salvar a vida dele, DEUS me abriria outras portas ".  E por fim, Dani Alves abriu mão de usar a sua camisa preferida, a número 2 no Barça  para usar a  22 como mais uma forma de homenagear o amigo  que a usava nos tempos que jogava no Barcelona.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

ECUMENISMO , AINDA É VIÁVEL ?

O Ecumenismo como proposta universal de unir todas as religiões é praticamente impossível devido as suas diferenças irreconciliáveis.Eis um exemplo claro entre o credo cristão e o muçulmano!

No Alcorão Sagrado, temos uma definição clara de DEUS como podemos observar nesta Surata :

Em nome de ALLAH, o Clemente, o Misericordioso.
 Dize : ELE é ALLAH , o Único !
 ALLAH ! O Absoluto !
  Jamais gerou ou foi gerado !
  E NINGUÉM é comparável a ELE !
( Surata da Unicidade : 112 : 1-4 ) #


 Agora leiam atentamente este pequeno trecho de uma reportagem do Jornal Folha Universal  refutando críticas a construção de uma réplica do Templo de Salomão aqui em São Paulo usando a forma de perguntas e respostas . Reproduzo aqui a pergunta número 8 com sua respectiva resposta na íntegra.

8 - A Universal esta usurpando o símbolo de outra religião.

O cristianismo acredita que o DEUS de Abraão veio ao mundo na forma de um judeu, para morrer pelos
judeus e trazer a salvação que acabou sendo estendida aos gentios . Qualquer símbolo judaico descrito no Antigo Testamento é, inevitavelmente, um símbolo cristão. A réplica é uma homenagem a DEUS de Israel e à cultura que Ele mesmo ajudou a construir . O Templo promoverá a fé cristã baseada na fé bíblica original,que é a fé judaica.

Folha Universal , Ano 21. Número 1.118 - Edição de 08 a 14 de setembro de 2013

Acredito e defendo uma convivência pacífica e de respeito entre os praticantes de todos os credos, porém ,reconheço que há sim diferenças irreconciliáveis . Deixo por fim uma outra revelação contida no Alcorão Sagrado que dá a solução de forma clara e definitiva para impedir conflitos e guerras desnecessárias entre as várias crenças, deixando assim para o próprio DEUS a clarificação de todas as dúvidas no DIA em que não haverá como esconder ou omitir mais nada.


Em Nome de ALLAH, o Clemente, o Misericordioso.

Dize : Ó incrédulos,
Não adoro o que adorais,
Nem vós adorareis o que adoro.
Nem adorarei o que adorais,
Nem vós adorareis o que adoro.
Vós tendes a vossa religião e eu tenho a minha.

(Surata Os Incrédulos : 109 : 1-6 ) #

# -Os Significados dos Versículos do Alcorão Sagrado.
Tradução : Professor Samir El Hayek



Obs; O Jornal Folha Universal é editado pela Igreja Universal do Reino de DEUS






A FÉ E A ORAÇÃO !





        Alguém perguntou : Há algo superior à oração ?
        _ Já respondemos a essa pergunta : a  alma da oração é melhor que a oração falada.
        Outra resposta : a fé é superior à oração , pois a oração é obrigatória cinco vezes ao dia , ao passo
que a fé é necessária a cada momento. É possível encontrar desculpas para não orar , assim como também é permitido adiar a oração. A fé, porém, não pode ser suprimida sob nenhum pretexto, e não pode ser adiada jamais. Além disso, a fé sem oração tem valor, mas a oração sem fé, como a dos hipócritas, não tem valor algum.
         A oração varia de acordo com as religiões, mas a fé não muda. Há outras diferenças que surgem conforme a receptividade do ouvinte. O ouvinte é a como farinha para aquele que a amassa, e a palavra como a água.
          Adiciona-se água à farinha conforme o que é conveniente.



Mawlana Jálal al-Din Rumi
FIHI - MA -FIHI - 0 Livro do Interior.
Edições Dervish - 1993.
Pág.59
Tradução : Margarita Maria Garcia Lamelo

sábado, 10 de agosto de 2013

..........ISSO É MODERNO ?

Imaginem o seguinte diálogo :

- Alô, a dona fulana esta ?
- Não, quem gostaria de falar ?
- Um cliente. E a filha  dela, esta ?
- Também não. Saíram para fazer um programa juntas. Voltam daqui a três dias !
- Que pena. Quem tá falando ?
- A fulana é minha mãe e sicrana é minha irmã, por que ?
- Eu queria agendar um programa com as duas,sabe como é. Despedida de solteiro. A minha e de outro amigo. Más seria para depois de amanhã !
- Olha, se você quiser eu te passo o celular da minha tia. Ela é mais nova que minha mãe um ano. É super profissional e além do mais, tem duas filhas que são uma delícia!!
- Demôro, assim fica tudo em família. Elas aceitam cartão de crédito né ?.
- Dependendo do valor, até três vezes sem juros !
- Beleza, tô pegando uma caneta.......


A ideia desse diálogo me surgiu ao constatar que no mundo ocidental civilizado, moderno e iluminista cresce a cada dia a tendência de tornar a prostituição legalizada com as chamadas " profissionais do sexo "  tendo inclusive o direito de ter Carteira Profissional registrada e tudo. Em alguns países "mais avançados " isso já acontece.

São as saídas propostas pelo Capitalismo num  "esforço" de combater o desemprego mundial e amenizar a sua crise que parece não ter fim !

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A estranha invisibilidade da presença muçulmana na formação do Povo Brasileiro



brazil capa
Por: Haidar Abu Talib 

A história oficial brasileira, como outras histórias oficiais de outros povos e nações, sofreu algumas interferências modificadoras, produzidas pela conveniência dos ocupantes do poder material e seus aliados.  A busca da verdade pela verdade, sem acomodamentos, é dever de todo historiador. Como exemplo disto temos: 
           Na introdução de Mario da Gama Kury, em História de Herôdotos, - pag. 8/9 Editora Universidade de Brasília, 1985 - é dito que: "Herôdotos é chamado "pai da história" porque antes dele houve apenas logógrafos (literalmente " escritores em prosa", em contraste com os "escritores em verso"; ... O nome de logógrafos refletia apenas a qualidade de prosador, enquanto que o de historiador (historikôs) tem um significado mais definido, pois história quer dizer originariamente "busca, investigação, pesquisa"; então o historiador, do ponto de vista etimológico, é uma pessoa que se informa por si mesma da verdade, que viaja, que interroga, em vez de limitar-se a transcrever dados à sua disposição e repetir genealogias, cronologias e lendas, ou compilar registros relativos à fundação de cidades, tudo com o intuito exclusivo de satisfazer a curiosidade ingênua de um público ainda pouco exigente, sem estabelecer a menor distinção entre acontecimentos reais ou relatos imaginários, entre fatos ou peripécias fantásticas."   
            De igual modo, o Islam, dentre outros pontos que incorporam o seu significado, é o contrário de ignorância, de mentira e de ocultamento, e todo aquele que oculta, omite, falseia ou a modifica intencionalmente é designado por "kafir". A busca da verdade, é obrigação de cada muçulmano.  
            Atualmente, nestes tempos de globalização, em que muito se fala de multiculturalismo, é necessário buscar a realidade dos fatos e da trajetória humana.  Em especial, nas últimas décadas do século XX, nos anos 70, 80 e 90, um movimento de revisionismo histórico começou a tomar vulto, propondo o reexame de fatos, até então adormecidos, acomodados ou até mal explicados. Dentre eles, vários pontos relacionados a formação dos povos e nações, e porque não, a formação do Povo e da Nação Brasileira.  
           O Brasil, além da manutenção da estabilidade monetária, necessita de igual modo, de uma estabilidade social, e ao nosso ver, isto só ocorrerá, dentre outras coisas, quando houver um carinhoso exame para observação da história relatada, comprovação do que consta dessa história, questionamento dos pontos controversos e, mais do que tudo, amor fraterno para com todos os nossos concidadãos. 
            Nossos dramas são fruto de etnocentrismos, o esteticismos, eugenismo, multiculturalismo, etnocentrismo, xenofobia. O processo dito civilizatório, atrelado ao fardo civilizatório do homem branco, na contramão da civilidade que é sinônimo de urbanidade, pré-condição para a fraternidade. 
            A tragédia social de nossa época, exige de todos nós grandes quantidades de humildade, lucidez e equilíbrio e, porque não dizer, amor por nossos semelhantes. Sem paixões e rancores, para o indispensável alcance das soluções adequadas aos problemas que estamos vivenciando. O exemplo disto é que, no Fórum de Debates Interculturalidades na América Latina – Religião e Multiculturalismo – Povos e Culturas das Américas, promovido pelo Núcleo de Estudos das Américas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, realizado de 6 a 10 de novembro de 2006, a questão central tratada foi: “O pluriculturalismo envolve, além das questões complexas sobre interculturalidade, problemas cruciais que esbarram em confrontos de imaginários e cosmovisões. As distorções sociais se acentuam gerando desigualdades, exclusões, violências e corrupções, entre tantos aspectos que desafiam a sobrevivência dos povos e culturas nesses espaços, fragmentados pelo etnocentrismo e pela alteridade.”. E como... “pretende se tornar um espaço de diálogo e reflexão sobre a complexidade das questões interculturais” …” diante da nova e ameaçadora ordem social e cultural que se instalou sob as Américas.”.     
Necessitamos ponderar que a intenção e a prática que podem proporcionar a harmonia entre todos nós tem por alicerce um princípio claro: Não existe nenhum ser humano que seja melhor que o outro pela mera alegação de superioridade quanto à raça, gênero, etnicidade, condição social, linhagem ou estirpe familiar, capacidade intelectual ou quaisquer argumentos de autopromoção ou de antropolatria.            
            Somos parte da criação como um todo, sujeitos as normas que abrangem tudo o que somos, tudo o que em nós está contido e tudo o que nós cerca. O melhor de todos nós, será aquele que melhor se esmerar na intenção, na sua capacitação, na prática de suas ações, reações e respectivos seus resultados.                
            Muitos contaminados pela própria arrogância e ambição, ou desviados pelo mal, arvoram-se em superiores, acima de tudo e de todos, porém, nenhum de nós conhece com precisão absoluta o que efetivamente há dentro de nosso próprio eu, quanto mais o que há dentro de nossos semelhantes que conceituamos como diferentes.   
Por vezes, imaginamos como justificativa para nossas atitudes, um ringue onde acontece a luta entre o Bem e o mal. Permitimo-nos ser ora espectadores, imaginando que Deus luta contra o mal e que nada temos a fazer.  Na realidade o mal nada pode contra Deus. O mal visa nos destruir. Contra Deus o mal nada pode.  
Mesmo que algumas pessoas acreditem-se capacitadas a legislar de modo expúrio, classificando seus semelhantes que discordam de seus interesses como “entes do mal”, a Justiça os alcançará e os reconduzirá a sua real posição. 
            Sobre tudo isto, o conhecimento proporcionado pela Revelação Corânica nos apresenta o seguinte:
A perspectiva islâmica nos textos do Alcorão Sagrado:
 “Ó humanos, temei a vosso Senhor, que vos criou de um só ser, do qual criou a sua companheira e, de ambos, fez descender inúmeros homens e mulheres. Temei a Allah, em nome do Qual exigis os vossos direitos mútuos e reverenciai os laços de parentesco, porque Allah é vosso Observador.” (4.ª surata, 1ª ayat) 
“Criou-vos com prudência dos céus e a terra. Enrola a noite com o dia e enrola o dia com a noite. Tem submetido o sol e a lua; cada qual prosseguirá o seu curso até um término prefixado. Certamente, Ele é o Poderoso, o Indulgentíssimo!  (6) Criou-vos de um só ser; então, criou, do mesmo, a sua esposa, .......Configura-vos paulatinamente no ventre das vossas mães, entre três trevas, (no sentido cumulativo, o âmnio ou membrana, o útero e o ventre, onde se encontra o útero).” (39.ª surata, 4.ª ayat e 6ª ayat).
 “No princípio os povos constituíam uma só nação.  Então Allah enviou os profetas como alvissareiros e admoestadores e enviou, por eles, o Livro, com a verdade, para dirimir as divergências entre os homens. Porém, aqueles que o receberam só divergiam a seu respeito, depois de lhes terem chegado a evidência, por egoística teimosia.  Porém Allah, com a Sua Graça, orientou os crentes para a verdade quanto àquilo que é a causa da suas divergências;” (2ª surata, 213ª ayat).
“Ó humanos, em verdade Nós vos Criamos de macho e fêmea e Dividimos em povos e tribos para reconhecer-des uns aos outros. O melhor dentre vós é o que melhor observa o determinado por Deus. Sabei que Deus está bem inteirado e é Sapientíssimo.” (49ª surata, 13ª ayat). 
“...tratai com benevolência vossos pais e parentes, os órfãos e os necessitados; falai ao próximo com benevolência;” (2.ª Surata, 83.ª ayat). 
“Convoca (os humanos) à senda do teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação; dialoga com eles de maneira benevolente, porque o teu Senhor é o mais conhecedor de quem se desvia da Sua senda, assim como é o mais conhecedor dos encaminhados.” (16.ª Surata, 125.ª ayat).
“Não há imposição quanto à religião porque já se destacou a verdade do erro. Quem renegar o sedutor e crer em Allah, ter-se-á apegado a um firme e inquebrantável sustentáculo, porque Allah é Oniouvinte, Sapientíssimo.” (2.ª Surata 256ª ayat).
O profeta Muhammad (Que a Paz e as Bênçãos de Allah estejam sobre ele) ensinou o seguinte: “A boa palavra equivale uma caridade”. 
No Alcorão existem 527 versículos que falam sobre o diálogo.
             Na América Latina, o Brasil, país com maior dimensão geográfica e populacional, é formado por uma grande diversidade de povos, etnias e respectivas cosmovisões. 
            A simplicitude alegada de que somos uma nação, formada por povos indígenas, portugueses e africanos, não corresponde à verdadeira amplitude da composição do povo brasileiro. Ainda há muito a ser pesquisado, resgatado, conhecido e acrescido a nossa história nacional. Populações indígenas, com sua pujança, plenitude e variedade cultural; a realidade dos habitantes não nativos à época do descobrimento; dos emigrantes vindos da Península Ibérica; os africanos trazidos para o Brasil; os demais agrupamentos étnicos que aqui chegaram ao longo de todo esse período de tempo até nossos dias. 
            Os interesses relacionados à manutenção do poder pelos colonizadores, fizeram com as informações fossem inicialmente submetidas as suas análises e censura, e essa prática continuou sendo praxe pelos seus sucessores no comando sociedade brasileira. Essa ocultação, sonegação ou encobrimento da verdade, equivale ao erro da intenção de mentir, falsificar e enganar.  
            Ainda não são totalmente conhecidos todos os elementos formadores da atual argamassa da nação brasileira, mas o acesso ao conhecimento nem sempre é fácil e o conhecimento existente nem sempre é exato e acessível. A partir da última década do século XX, surgiu um clamor revisionista sobre vários pontos da história oficialmente conhecida. Por exemplo: Com a chegada do colonizador português em abril de 1500, as populações aqui encontradas constituídas por povos organizados em nações e tribos indígenas, foram submetidas a tudo aquilo que com conceitualmente faz parte do ato de colonizar.      O Brasil, teria sido descoberto por Pedro Álvares Cabral, apesar de estudiosos como Carolina de Michaellis insistirem e na teoria do “achamento”, isto é, só se procura o que se sabe existir.  Aliás, em 1498, 2 anos antes de Pedro Álvares Cabral, o navegador Duarte Pacheco Pereiraautor do Esmeraldo de Situ Orbis informava a Dom Manoel I, O Venturoso, sua chegada ao Brasil, isto é, 2 anos antes de Cabral. Coincidentemente ou não, Duarte Pacheco Pereira testemunhou a assinatura do Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de Junho de 1494, 4 anos antes de chegar ao Brasil. É verdadeiramente espantoso o fato da acuidade visual que proporcionou, em termos cartográficos, a divisão territorial da América do Sul, entre Espanha e Portugal, de algo que para o conhecimento da época, não se sabia existir.  Teria sido mágica ? 
            Outras questões nos trazem uma infinidade de aspectos quanto ao que poderíamos de chamar bases sociais das populações nativas aqui existentes. Sua diversidade cultural, diferentes níveis de cultura e sabedoria, origens e a quanto tempo essas populações existiam organizadas como então estavam organizadas, coisas que provavelmente nem passaram pela cabeça dos colonizadores.  Passado o período entre 1500 e 1534 e a partir daí até 1549, com a primeira e a segunda formação das Capitanias Hereditárias, fracassada a tentativa de promover a economia colonial com a escravização dos nativos brasileiros submetidos direta ou indiretamente a um genocídio, e a sua substituição por africanos ao Brasil, para servir de força motriz para a extração de riquezas por aproximados 400 anos de flagelo, injustiça e crueldade. Quanto foi ocultado ou deixou de ser observado, a pretexto de superioridade cultural, racial, religiosa ou mero interesse econômico? A chegada do “Santo Ofício” em 1592, as invasões holandesas e francesas, tudo isto interligado de forma direta ou indireta aos procedimentos praticados na colônia e no império, para a manutenção do poder de uma elite, até a República do Brasil. Em especial, essa invisibilidade, fosse por desconhecimento, fosse por ocultação da realidade dos fatos e das circunstâncias, e até das qualidades do outro, produziram sobre o diferente, desafortunado ou somente discriminado, uma série de outros dramas, por vezes insolúveis do berço a sepultura. Ainda ecoa sobre o Brasil, aquilo que o Professor Darcy Ribeiro indagou na apresentação da sua última obra “O Povo Brasileiro”: - Porque é que o Brasil ainda não deu certo ?   Com a aproximação do último século da escravidão legal, a partir da proibição do tráfico de escravos pelo império inglês, e o mercado paralelo que valorizava mais ainda a “mercadoria”, mesmo já tendo sido proclamada a Independência por Dom Pedro I em 1822, o Brasil Império, ainda estava atrelado a Portugal, que por sua vez dependeu da Inglaterra, que foi alçada a condição de agente comercial exclusivo de todos os produtos exportados pelo Brasil. Em 25 janeiro de 1835, depois de muitas outras revoltas na Província da Bahia, em meio a um conjunto de crises econômicas, algumas delas promovidas pela falsificação de moedas da época, ocorreu a Revolta dos Malês, e em 14 de maio de 1835, 5 muçulmanos, Neste ano de 2007, completar-se-ão 172 anos da execução deJOAQUIM, nagô, escravo;  GONÇALO, nagô, escravo;  PEDRO, háussa, escravo;  JORGE DA CRUZ BARBOSA, háussa, liberto e  JOSÉ FRANCISCO GONÇALVES, háussa, liberto, todos muçulmanos e mártires, fuzilados em 14 de maio de 1835, em Salvador. Sem qualquer referência nos livros didáticos escolares, constando apenas dos poucos livros que tratam de pesquisa histórica especializada, a história factual, espera a vez e a hora para ser transladada para a história oficial.  
A quase total invisibilidade da presença muçulmana no Brasil, talvez fruto do desprezo ou de uma censura vigilante, sob aqueles que vieram da Península Ibérica e da África, não pode ser justificada pela falta de conhecimento dos poderosos de então. Quanto aos que vieram da África, somente no final do século XIX, por nomes como os etnólogos Raimundo Nina Rodrigues e Arthur Ramos, foram objeto de explicação “científico-etnológica”. Quem sabe, a quantas andou a teoria de César Lombroso e a teoria chamada como “perfil do lombrosiano” que apresentava a periculosidade potencial da pessoa patologicamente feia. Viajantes como, por exemplo, Richard F. Burton, no século XIX, ) que após longa viagem pelo Brasil foi servir como Vice-Consul da Inglaterra na Nigéria),  observaram a pequena África na região da Gambôa, no Rio de Janeiro, à época do Cais da Imperatriz, da Pedra do Sal, do Mercado de Escravos e da vala comum, chamada de Cemitério dos Pretos Novos, criada em 1722, no Largo de Santa Rita,  próximo ao chafariz situado na frente da igreja do mesmo nome, (atualmente av. Mal. Floriano com Largo de Santa Rita, transferido pelo Marques de Lavradio em 1779 para a rua da Gambôa, nas imediações do então mercado de escravos do Valongo. Hoje na atual rua Pedro Ernesto, onde existe uma placa que informa ser ali o “Sítio Arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos”, parte de uma área estimada em “50 braças em quadra” (sistema métrico daquela época). A Gambôa, era reconhecida como ponto de concentração de africanos escravos ou libertos, de maioria muçulmana, trabalhadores da estiva e demais serviços relacionados ao porto de então. Na rua Barão de São Félix, segundo relato João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, cronista do Rio Antigo, em “Religiões do Rio”, funcionava uma antiga sociedade beneficente, que existia desde o século XVIII, onde reuniam-se africanos e árabes para as orações islâmicas. Muitos dos aproximados mais de 6.000 corpos que ali foram jogados, por observações dos trabalhos de salvamento arqueológico realizados por ocasião do encontro de parte dos ossos no ano de 1996, eram de muçulmanos, além de outros africanos, que chegados da travessia do oceano Atlântico, não se recuperavam no período de quarentena para engorda e embelezamento, para apagar parte dos vestígios dos maus tratos e péssimas condições de alimentação, sem higiene e por vezes até sem água para beber. Na segunda etapa da expansão europeia, surgiu o “fardo civilizatório do homem branco”, que pretendendo “civilizar”, continuou o trabalho etnocêntrico e xenófobo para o submetimento e saque de suas vítimas.  Igual a vários outros pretendidos até os dias de hoje, espalhando a “democracia global”. A utilização das informações e da transformação de mentiras em verdades, até que o próprio mentiroso acredite nela, ou da ocultação da verdade de acordo com o “interesse legítimo” coincidem com o que Maquiavel escreveu no livro O Príncipe. 
O fim da escravidão legal se deu em 13 de maio de 1888, 53 anos depois do fuzilamento dos muçulmanos na Bahia, e de tantos outros mortos anonimamente através dos séculos no Brasil; chegou a República,  e com ela, logo a seguir, a Guerra de Canudos, onde foram dizimados cidadãos brasileiros que resistiram a corrupção e ao abuso de poder,  acusados de serem “monarquistas”, Porém, na prática de antes e de agora, as tensões e os dramas ainda sobrevivem.   
A “queima dos documentos” por Ruy Barbosa, a política de branqueamento da sociedade brasileira, não foram suficientes para dotar os ex-escravos já nascidos no Brasil ou vindos da África, das condições necessárias a uma Justiça Social e a restituir-lhes a dignidade humana. Depois surgiram teorias como a da Democracia Racial descrita por Gilberto Freyre.   De igual e tão dramático modo, seguem as populações nativas, dito indígenas, buscando compreender o por que não são compreendidos e por que não lhes é dado o direito a existir sem estarem submetidos a outros padrões culturais, que nada tem a haver com avanço tecnológico, social ou tudo o mais que hoje compõe o chamado IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.       
Agravaram-se as tensões sociais que até hoje desencadeiam tragédias e dramas pessoais e coletivos, em meio a este mundo globalizado, dominado hegemonicamente por um país, conhecido pela sua economia e seu poder bélico, do chamado Primeiro Mundo, enquanto nós, de acordo com o esteticismo dominador, ainda somos do Terceiro Mundo, não alcançando sequer o “Segundo”, que ninguém ainda disse onde fica.  
Ao meu ver, com o intuito de empreender uma jornada de esforços para a compreensão dessas tensões sociais, partir de 2002, com a criação de organismos governamentais à nível federal, tais como o CNPIR - Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial órgão da SEPPIR – Secretaria Especial para Promoção de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da República, e da Secretaria Especial de Direitos Humanos, ambas com status de ministério, iniciou-se um trabalho que busca o diálogo para mútuo conhecimento e alcance de vários problemas sociais havidos pelo desconhecimento ou pelo desrespeito ao próximo. Em 2005, várias conferências a nível municipal e estadual por todo o Brasil aconteceram, preparatórias da conferência nacional havida no final de julho e início de agosto de 2005, cujas recomendações visam atender a inúmeras questões raciais, étnicas e religiosas da realidade brasileira.  Na cidade do Rio de Janeiro, coincidentemente, a conferência foi iniciada em 14 de maio de 2005, 170 anos depois do fuzilamento dos muçulmanos.  InshaALLAH, doravante, tenhamos o alcance das soluções que todos nós tanto necessitamos.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

IMAM MALIK : Mente aberta e um exemplo de Humildade e Sabedoria !

         AL MUATA é fruto de quarenta anos de esforço dos sábios. Foi o primeiro livro sobre Hadice e Jurisprudência que apareceu na história do Islam. O seu conteúdo foi ratificado por setenta sábios contemporâneos da Hijaz ( Península arábica ). No entanto, quando o califa Al Mansur quis que fossem feitas e distribuídas várias cópias para que as novas regiões muçulmanas seguissem uma linha de pensamento, terminando assim as diferenças, MÁLIK foi o primeiro a rejeitar esta sugestão.  Eis o que  disse para Al Mansur :


"NÃO FAÇA ISSO. AS PESSOAS, DAS DIVERSAS PARTES DAS TERRAS MUÇULMANAS, JÁ POSSUEM UM CONHECIMENTO ESTRUTURADO COM BASE NOS RELATOS QUE RECEBERAM E NOS DITOS DO PROFETA (s.a.w.s) QUE FORAM OUVIDOS ANTERIORMENTE. CADA GRUPO DE PESSOAS AGE  DE ACORDO COM O CONHECIMENTO QUE VEIO ATÉ ELAS PRIMEIRO, POR ISSO HÁ VARIAÇÃO NA FORMA DE PRATICAR O QUE LHES FOI ENSINADO. DEIXE ENTÃO QUE OS POVOS DE CADA REGIÃO SIGAM O QUE ESCOLHERAM PARA SI ". O califa concordou com a opinião de MÁLIK e rezou para que  DEUS o abençoasse com sucesso


         O conselho de MÁLIK para o califa e sua recusa em ter  - Al Muata - o livro sobre o qual trabalhou escrupulosamente por longo tempo - oficialmente prescrito como o texto principal de Hadice e Jurisprudência - deixam-nos clara a dimensão dos seus conhecimentos , sua mente aberta e seu desprendimento de qualquer traço de egoísmo . Ele foi capaz de ver os limites e os perigos de uma regra autoritária ".( 1 ).

1) Taha Jabir Al Awani. The Ethics of Disagreement in Islam.

Livro : O Estado Islâmico e sua Organização, pág 154 ( capítulo : A ética relativa ao debate e à discordância no Islam ).
Autor : Sami Armed Isbelle. Editora Azaan. Ano 2008








terça-feira, 2 de julho de 2013

A QUEM POSSA INTERESSAR !



Alguns Amigos e Irmãos , as vezes me questionam de forma respeitosa e reservada algumas opiniões feitas por mim ou compartilhadas com terceiros nesse espaço democrático e plural . Alegam de forma sincera e de espírito desarmado as contradições neles expostos e sendo assim, acabam externando o seu descontentamento e me alertam sobre uma possível confusão/contradição de pensamentos da minha parte. Tudo isso, eu penso ser importante e necessário para uma profunda amizade e respeito entre nós, já que a hipocrisia deve ser afastada a qualquer custo desses relacionamentos. O que eu posso dizer sobre tudo isso é que possar passar por cima da minha consciência e experiência de vida não faz parte da minha biografia. Como me escreveu o Irmão Erickson Abdul Rahman Ribeiro, devemos fazer o que certo porque é certo, e não para agradar este ou aquele. Esta deve ser a atitude de 
qualquer pessoa de bem e preocupada com o bem estar de toda a humanidade. Por fim, as pessoas , as situações, os sentimentos , aliás, tudo é passivo de mudança nesse mundo e o que jamais deveríamos mudar é nosso caráter e a busca constante da verdade.

Com o espírito fraternal a todos !

Assalamu Alaikum !!!

sábado, 29 de junho de 2013

CARTILHAS E MANUAIS !

             Estou muito velho para seguir cartilhas e manuais quando se trata de política. Acompanhar o censo comum nunca foi a minha praia , e alem do mais, política se aprende na prática do dia dia , no confronto diário,as vezes pacífico as vezes não, com todas as classes sociais envolvidas e os seus respectivos interesses! 
Como se dizia na abertura de uma série de TV : " A verdade está lá fora ". Ela esta fora da sua confortável moradia , esta fora do seu delicioso sofá, do seu tablet, do seu Ipad..etc.........Ela se encontra nas Ruas, nas Fábricas, nos Sindicatos, nas Organizações sociais, nas 'Inocentes "programações de TV ligadas em lugares estratégicos ,nas primeiras páginas dos tradicionais jornalões e revistas da grande mídia bem posicionadas nas milhares  bancas de jornais espalhadas pelo território nacional, e pasmem, dentro dos Partidos políticos também !!!!!!!....Hahahhahahah, quem disse que seria fácil ??????

PT SÃO PAULO: Bomba! O mensalão da Globo!

PT SÃO PAULO: Bomba! O mensalão da Globo!

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O manifesto que não veio. WLADIMIR POMAR

http://www.teoriaedebate.org.br/

Esperava que o PT tivesse apoiado e conclamado sua militância, seus dirigentes e seus parlamentares a irem para as ruas desde o dia seguinte ao primeiro dia das manifestações. Como novos atos virão, nunca é tarde para que o partido retome seu antigo espírito de luta e mostre a que veio. Afinal, como temem alguns, o movimento que está nas ruas pode provocar uma reciclagem do PT pela esquerda
Os reacionários temem que essas manifestações provoque uma reciclagem do PT pela
Os reacionários temem que essas manifestações provoquem uma reciclagem do PT pela esquerda
Foto: Marcelo Camargo/ABr
Como antigo militante do PT, esperava que meu partido tivesse expressado publicamente, desde o dia imediato ao início das manifestações populares, em todo o Brasil, apoio às manifestações e conclamado sua militância, seus dirigentes e seus parlamentares a irem para as ruas. Supunha que era dever dessa militância petista participar ativamente da luta e contribuir para elevar a consciência política das centenas de milhares de manifestantes homens, mulheres, jovens, adultos, velhos, estudantes, funcionários de escritórios, operários, empregados no comércio e em serviços, desempregados, lúmpens e outros seres populares.
É verdade que grande parte da militância se incorporou às manifestações. Muitas direções setoriais, municipais e nacionais manifestaram-se em apoio. Mas a direção nacional do PT manteve-se em silêncio até poucos dias e se manifestou tardia e timidamente. (ver Nota do PT sobre o transporte público)
Assim, transcrevo o que esperava que o PT tivesse dito desde o primeiro dia ao povo brasileiro.
“O PT saúda os milhares de brasileiros que saíram as ruas para demonstrar sua insatisfação contra os aumentos das tarifas de transportes públicos, contra o aumento desmesurado dos alimentos e dos bens de consumo, contra a demora nos investimentos em educação, saúde, saneamento, moradia e outras áreas fundamentais, contra a corrupção e contra a discriminação antidemocráticas de governos que não consideram legítimas as manifestações públicas. O PT se coloca veementemente contra a repressão policial aos manifestantes e responsabiliza essa repressão pelos atos de vandalismo ocorridos durante ou após as manifestações populares.
O PT nasceu, entre os anos 1970 e 1980, como resultado de manifestações populares contra o aumento do custo de vida, a contenção dos salários e o regime ditatorial militar. O PT cresceu com seus militantes participando ativamente nas grandes manifestações populares pelas eleições diretas para a Presidência da República, pela anistia política e pela democratização do país. Sua participação nas eleições locais e presidenciais sempre foi marcada por grandes manifestações populares, em alguns casos reunindo mais de um milhão de pessoas.
Durante os anos 1990, o PT foi muitas vezes às ruas para lutar contra os descalabros promovidos pelos governos neoliberais. Lutou contra a privatização dos serviços públicos e das empresas estatais. Lutou contra as políticas que levaram à falência grande número de empresas nacionais. Lutou contra a monopolização da economia brasileira por grandes empresas multinacionais. Batalhou contra o desemprego, a pobreza e a miséria. E se empenhou na luta contra a corrupção e pela melhoria da educação, da saúde e das condições de vida do povo.
Portanto, o PT sempre participou das lutas e manifestações populares, considerando-as um direito democrático básico. E foi essa persistência que fez o PT contribuir decisivamente para a eleição de Lula, em 2002 e 2006, e de Dilma, em 2010. Nos últimos dez anos, o PT se esforçou para que o governo melhorasse as condições de emprego e de vida do povo. Não é o momento de enumerar o número de desempregados que voltaram a ter emprego, de miseráveis que passaram a ter condições de ter duas ou três refeições por dia e colocar os filhos na escola, nem os esforços realizados para o Brasil voltar a crescer, erradicar a corrupção da sociedade brasileira e melhorar a educação, a saúde e a moradia. O momento é de reconhecer que o PT, apesar de todos os seus esforços, não conseguiu manter seus laços estreitos com as grandes camadas da população brasileira e continuar medindo, como deveria, as ansiedades e as insatisfações dessas camadas, para atendê-las como razão de sua própria existência.
Com isso, não conseguiu avaliar como deveria as causas da subida dos preços de alimentos, bens de consumo e transportes públicos. Não pressionou o governo federal, como deveria, a dar mais atenção à agricultura familiar, para aumentar a produção de alimentos e baratear seus preços. Não pressionou os diversos níveis de governo a darem mais atenção aos investimentos em infraestrutura geral e urbana, e ao crescimento das indústrias de bens de consumo, com o mesmo objetivo de atender ao aumento do poder de compra e rebaixar os preços. E deu pouca atenção ao descalabro dos transportes urbanos e intermunicipais, herdado da quebradeira neoliberal, que transformou esse setor numa área de desatenção completa aos usuários e lucros exorbitantes dos empresários.
O PT reconhece seu pouco empenho em pressionar o governo a adotar uma política que desse menos estímulo à indústria automobilística de transporte individual. Este satura ainda mais as vias urbanas e piora a poluição e a mobilidade das pessoas. Deveria ter lutado com mais vigor para o governo investir pesadamente na ampliação da oferta de transporte coletivo. Isto teria melhorado a mobilidade urbana e reduzido as tarifas do transporte, o que reduziria as despesas com combustível e as pressões inflacionárias.
O PT acredita que estão errados os que pensam que o aumento de R$ 0,20 nos transportes públicos é uma questão de menor importância. O transporte público deficiente e caro sacrifica milhões de pessoas. Esse sacrifício se torna ainda maior com os engarrafamentos que entopem as estradas, avenidas e ruas e transformam a locomoção de cada dia num purgatório ou inferno. Por isso, apela a todos os governadores e prefeitos eleitos pelo PT a revogarem imediatamente a elevação das tarifas de transportes, no caso de as terem aumentado, e a ordenarem aos órgãos de segurança não reprimirem as manifestações. Ao mesmo tempo, conclama a todos os seus senadores, deputados federais e estaduais, e vereadores a se juntarem às manifestações populares e exercerem seus mandatos para impedir atos de violência policial contra os manifestantes.
Além disso, no caso específico dos transportes públicos, o PT exige de seus militantes em cargos públicos que examinam detidamente as planilhas de custos e lucros das empresas concessionárias, privadas e públicas. As manifestações populares contra o último aumento devem servir de lição. Esse serviço público não pode ser fonte de altos lucros à custa dos parcos recursos da população usuária e precisa deixar de ser indexado aos índices de inflação, o que vale para todos os estados e prefeituras do país.
O PT, desde já, se compromete a apoiar e participar da continuidade da luta popular pela redução das tarifas, pelo passo livre, e pela prioridade dos investimentos em áreas que são essenciais para melhorar o padrão de vida da população. Saneamento básico, educação, saúde, segurança, infraestrutura de transportes, e indústrias que aumentem os empregos são essenciais para transformar o atual padrão de vida doo país. O PT também se compromete a lutar ainda com mais tenacidade contra a corrupção, venha ela de onde vier.
Por tudo isso, apela aos manifestantes de agora, e aos que se incorporarem nos dias seguintes, que incluam em suas demandas as reformas políticas que impeçam a corrupção do dinheiro privado nas eleições e que imponham a fidelidade partidária. Que levantem alto a bandeira do fim dos monopólios, inclusive nas telecomunicações. E que exijam a queda dos juros e a taxação ou proibição da especulação financeira, como condição básica para impedir a inflação e aumentar os investimentos. De qualquer modo, com suas bandeiras vermelhas, ou sem elas, os petistas estarão corpo-a-corpo com os manifestantes de todo o Brasil”.
Era isso que esperava ter lido desde o dia seguinte ao primeiro dia das manifestações. Como novas manifestações virão, nunca é tarde para que o PT retome seu antigo espírito de luta e mostre a que veio. Afinal, como teme o ultrarreacionário Reinaldo Azevedo, os liberais de miolo mole deveriam colocar o burro na sombra porque o movimento que está nas ruas provocará uma reciclagem do PT pela esquerda. Para ele, isso é um perigo que poderá tornar o resultado das urnas ainda mais inóspito para a democracia deles, onde o povo não tem voz.
Wladimir Pomar é membro de Conselho de Redação de Teoria e Debate


AS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO DE 2013 NA CIDADE DE SÃO PAULO - MARILENA CHAUI .


assuntos e pessoas:

Os manifestantes, simbolicamente, malgrado eles próprios e malgrado suas afirmações explícitas contra a política, realizaram um evento político: disseram não ao que aí está, contestando as ações dos Poderes Executivos municipais, estaduais e federal, assim como as do Poder Legislativo nos três níveis
Um traço marcante é o transporte coletivo indecente, indigno e mortífero
Um traço marcante é o transporte coletivo indecente, indigno e mortífero
Foto: Marcelo Camargo/ABr
O que segue não são reflexões sobre todas as manifestações ocorridas no país, mas focalizam principalmente as ocorridas na cidade de São Paulo, embora algumas palavras de ordem e algumas atitudes tenham sido comuns às manifestações de outras cidades (a forma da convocação, a questão da tarifa do transporte coletivo como ponto de partida, a desconfiança com relação à institucionalidade política como ponto de chegada), bem como o tratamento dado a elas pelos meios de comunicação (condenação inicial e celebração final, com criminalização dos “vândalos”), permitam algumas considerações mais gerais a título de conclusão.

O estopim das manifestações paulistanas foi o aumento da tarifa do transporte público e a ação contestatória da esquerda com o Movimento Passe Livre (MPL), cuja existência data de 2005 e é composto por militantes de partidos de esquerda. Em sua reivindicação específica, o movimento foi vitorioso sob dois aspectos. Conseguiu a redução da tarifa e definiu a questão do transporte público no plano dos direitos dos cidadãos, e portanto afirmou o núcleo da prática democrática, qual seja, a criação e defesa de direitos por intermédio da explicitação (e não do ocultamento) dos conflitos sociais e políticos.

O inferno urbano

Não foram poucos os que, pelos meios de comunicação, exprimiram sua perplexidade diante das manifestações de junho de 2013: de onde vieram e por que vieram se os grandes problemas que sempre atormentaram o país (desemprego, inflação, violência urbana e no campo) estão com soluções bem encaminhadas e reina a estabilidade política? As perguntas são justas, mas a perplexidade, não, desde que voltemos nosso olhar para um ponto que foi sempre o foco dos movimentos populares: a situação da vida urbana nas grandes metrópoles brasileiras.

Quais os traços mais marcantes da cidade de São Paulo nos últimos anos e, sob certos aspectos, extensíveis às demais cidades? Resumidamente, podemos dizer que são os seguintes:
  • explosão do uso do automóvel individual. A mobilidade urbana se tornou quase impossível, ao mesmo tempo em que a cidade se estrutura com um sistema viário destinado aos carros individuais em detrimento do transporte coletivo, mas nem mesmo esse sistema é capaz de resolver o problema;
  • explosão imobiliária com os grandes condomínios (verticais e horizontais) e shopping centers, que produzem uma densidade demográfica praticamente incontrolável, além de não contar com redes de água, eletricidade e esgoto, os problemas sendo evidentes, por exemplo, na ocasião de chuvas;
  • aumento da exclusão social e da desigualdade com a expulsão dos moradores das regiões favorecidas pelas grandes especulações imobiliárias e a consequente expansão das periferias carentes e de sua crescente distância com relação aos locais de trabalho, educação e serviços de saúde. (No caso de São Paulo, como aponta Erminia Maricato, deu-se a ocupação das regiões de mananciais, pondo em risco a saúde de toda a população; em resumo: degradação da vida cotidiana das camadas mais pobres da cidade);
  • o transporte coletivo indecente, indigno e mortífero. No caso de São Paulo, sabe-se que o programa do metrô previa a entrega de 450 quilômetros de vias até 1990; de fato, até 2013, o governo estadual apresenta 90 quilômetros. Além disso, a frota de trens metroviários não foi ampliada, está envelhecida e mal conservada; à insuficiência quantitativa para atender à demanda, somam-se atrasos constantes por quebra de trens e dos instrumentos de controle das operações. O mesmo pode ser dito dos trens da CPTM, também de responsabilidade do governo estadual. No caso do transporte por ônibus, sob responsabilidade municipal, um cartel domina completamente o setor sem prestar contas a ninguém: os ônibus são feitos com carrocerias destinadas a caminhões, portanto feitos para transportar coisas, e não pessoas; as frotas estão envelhecidas e quantitativamente defasadas com relação às necessidades da população, sobretudo as das periferias da cidade; as linhas são extremamente longas porque isso as torna mais lucrativas, de maneira que os passageiros são obrigados a trajetos absurdos, gastando horas para ir ao trabalho, às escolas, aos serviços de saúde e voltar para casa; não há linhas conectando pontos do centro da cidade nem linhas interbairros, de modo que o uso do automóvel individual se torna quase inevitável para trajetos menores.
Em resumo: definidas e orientadas pelos imperativos dos interesses privados, as montadoras de veículos, empreiteiras da construção civil e empresas de transporte coletivo dominam a cidade sem assumir nenhuma responsabilidade pública, impondo o que chamo de inferno urbano.
A tradição paulistana de lutas

Recordando: a cidade de São Paulo (como várias das grandes cidades brasileiras) tem uma tradição histórica de revoltas populares contra as péssimas condições do transporte coletivo, isto é, a tradição do quebra-quebra quando, desesperados e enfurecidos, os cidadãos quebram e incendeiam ônibus e trens (à maneira do que faziam os operários no início da Segunda Revolução Industrial, quando usavam os tamancos de madeira – em francês, os sabots, donde a palavra francesa sabotage, sabotagem – para quebrar as máquinas). Entretanto, não foi esse o caminho tomado pelas manifestações atuais e valeria a pena indagar por quê. Talvez porque, vindo da esquerda, o MPL politiza explicitamente a contestação, em vez de politizá-la simbolicamente, como faz o quebra-quebra.

Recordando: nas décadas de 1970 a 1990, as organizações de classe (sindicatos, associações, entidades) e os movimentos sociais e populares tiveram um papel político decisivo na implantação da democracia no Brasil pelos seguintes motivos:  introdução da ideia de direitos sociais, econômicos e culturais para além dos direitos civis liberais; afirmação da capacidade auto-organizativa da sociedade; introdução da prática da democracia participativa como condição da democracia representativa a ser efetivada pelos partidos políticos. Numa palavra: sindicatos, associações, entidades, movimentos sociais e movimentos populares eram políticos, valorizavam a política, propunham mudanças políticas e rumaram para a criação de partidos políticos como mediadores institucionais de suas demandas.

Isso quase desapareceu da cena histórica como efeito do neoliberalismo, que produziu:
  • fragmentação, terceirização e precarização do trabalho (tanto industrial como de serviços), dispersando a classe trabalhadora, que se vê diante do risco da perda de seus referenciais de identidade e de luta;
  • refluxo dos movimentos sociais e populares e sua substituição pelas ONGs, cuja lógica é distinta daquela que rege os movimentos sociais;
  • surgimento de uma nova classe trabalhadora heterogênea, fragmentada, ainda desorganizada que, por isso, ainda não tem suas próprias formas de luta e não se apresenta no espaço público e, por isso mesmo, é atraída e devorada por ideologias individualistas como a “teologia da prosperidade” (do pentecostalismo) e a ideologia do “empreendedorismo” (da classe média), que estimulam a competição, o isolamento e o conflito interpessoal, quebrando formas anteriores de sociabilidade solidária e de luta coletiva.

Erguendo-se contra os efeitos do inferno urbano, as manifestações guardaram da tradição dos movimentos sociais e populares a organização horizontal, sem distinção hierárquica entre dirigentes e dirigidos. Mas, diversamente dos movimentos sociais e populares, tiveram uma forma de convocação que as transformou num movimento de massa, com milhares de manifestantes nas ruas.

O pensamento mágico
A convocação foi feita por meio das redes sociais. Apesar da celebração desse tipo de convocação, que derruba o monopólio dos meios de comunicação de massa, é preciso mencionar alguns problemas postos pelo uso dessas redes, que possui algumas características que o aproximam dos procedimentos da mídia:
  • é indiferenciado: poderia ser para um show da Madonna, para uma maratona esportiva etc., e calhou ser por causa da tarifa do transporte público;
  • tem a forma de um evento, ou seja, é pontual, sem passado, sem futuro e sem saldo organizativo porque, embora tenha partido de um movimento social (o MPL), à medida que cresceu passou à recusa gradativa da estrutura de um movimento social para se tornar um espetáculo de massa. (Dois exemplos confirmam isso: a ocupação de Wall Street pelos jovens de Nova York, que, antes de se dissolver, tornou-se um ponto de atração turística para os que visitavam a cidade; e o caso do Egito, mais triste, pois, com o fato de as manifestações permanecerem como eventos e não se tornarem uma forma de auto-organização política da sociedade, deram ocasião para que os poderes existentes passassem de uma ditadura para outra);
  • assume gradativamente uma dimensão mágica, cuja origem se encontra na natureza do próprio instrumento tecnológico empregado, pois este opera magicamente, uma vez que os usuários são, exatamente, usuários, e portanto não possuem o controle técnico e econômico do instrumento que usam – ou seja, desse ponto de vista, encontram-se na mesma situação que os receptores dos meios de comunicação de massa. A dimensão é mágica porque, assim como basta apertar um botão para tudo aparecer, assim também se acredita que basta querer para fazer acontecer. Ora, além da ausência de controle real sobre o instrumento, a magia repõe um dos recursos mais profundos da sociedade de consumo difundida pelos meios de comunicação, qual seja, a ideia de satisfação imediata do desejo, sem qualquer mediação;
  • a recusa das mediações institucionais indica que estamos diante de uma ação própria da sociedade de massa, portanto indiferente à determinação de classe social; ou seja, no caso presente, ao se apresentar como uma ação da juventude, o movimento assume a aparência de que o universo dos manifestantes é homogêneo ou de massa, ainda que, efetivamente, seja heterogêneo do ponto de vista econômico, social e político, bastando lembrar que as manifestações das periferias não foram apenas de “juventude” nem de classe média, mas de jovens, adultos, crianças e idosos da classe trabalhadora.
No ponto de chegada, as manifestações introduziram o tema da corrupção política e a recusa dos partidos políticos. Sabemos que o MPL é constituído por militantes de vários partidos de esquerda e, para assegurar a unidade do movimento, evitou a referência aos partidos de origem. Por isso foi às ruas sem definir-se como expressão de partidos políticos, e em São Paulo, quando, na comemoração da vitória, os militantes partidários compareceram às ruas foram execrados, espancados e expulsos como oportunistas – sofreram repressão violenta por parte da massa.

A crítica às instituições políticas não é infundada, possui base concreta:
  • no plano conjuntural: o inferno urbano é, efetivamente, responsabilidade dos partidos políticos governantes;
  • no plano estrutural: no Brasil, sociedade autoritária e excludente, os partidos políticos tendem a ser clubes privados de oligarquias locais, que usam o público para seus interesses privados; a qualidade dos Legislativos nos três níveis é a mais baixa possível e a corrupção é estrutural; como consequência, a relação de representação não se concretiza porque vigoram relações de favor, clientela, tutela e cooptação;
  • a crítica ao PT: de ter abandonado a relação com aquilo que determinou seu nascimento e crescimento, isto é, o campo das lutas sociais auto-organizadas, e ter-se transformado numa máquina burocrática e eleitoral (como têm dito e escrito muitos militantes ao longo dos últimos vinte anos).
Isso, porém, embora explique a recusa, não significa que esta tenha sido motivada pela clara compreensão do problema por parte dos manifestantes. De fato, a maioria deles não exprime em suas falas uma análise das causas desse modo de funcionamento dos partidos políticos, qual seja, a estrutura autoritária da sociedade brasileira, de um lado, e, de outro, o sistema político-partidário montado pelos casuísmos da ditadura. Em lugar de lutar por uma reforma política, boa parte dos manifestantes recusa a legitimidade do partido político como instituição republicana e democrática. Assim, sob esse aspecto, apesar do uso das redes sociais e da crítica aos meios de comunicação, a maioria dos manifestantes aderiu à mensagem ideológica difundida anos a fio pelos meios de comunicação de que os partidos são corruptos por essência. Como se sabe, essa posição dos meios de comunicação tem a finalidade de lhes conferir o monopólio das funções do espaço público, como se não fossem empresas capitalistas movidas por interesses privados. Dessa maneira, a recusa dos meios de comunicação e as críticas a eles endereçadas pelos manifestantes não impediram que grande parte deles aderisse à perspectiva da classe média conservadora difundida pela mídia a respeito da ética.

De fato, a maioria dos manifestantes, reproduzindo a linguagem midiática, falou de ética na política (ou seja, a transposição dos valores do espaço privado para o espaço público), quando, na verdade, se trataria de afirmar a ética da política (isto é, valores propriamente públicos), ética que não depende das virtudes morais das pessoas privadas dos políticos, e sim da qualidade das instituições públicas enquanto instituições republicanas. A ética da política, no nosso caso, depende de uma profunda reforma política que crie instituições democráticas republicanas e destrua de uma vez por todas a estrutura deixada pela ditadura, que força os partidos políticos a fazer coalizões absurdas se quiserem governar, coalizões que comprometem o sentido e a finalidade de seus programas e abrem as comportas para a corrupção. Em lugar da ideologia conservadora e midiática de que, por definição e por essência, a política é corrupta, trata-se de promover uma prática inovadora capaz de criar instituições públicas que impeçam a corrupção, garantam a participação, a representação e o controle dos interesses públicos e dos direitos pelos cidadãos. Numa palavra, uma invenção democrática.

Ora, ao entrar em cena o pensamento mágico, os manifestantes deixam de lado o fato de que, até que uma nova forma da política seja criada num futuro distante, quando, talvez, a política se realizará sem partidos, por enquanto, numa república democrática (ao contrário de numa ditadura), ninguém governa sem um partido, pois é este que cria e prepara quadros para as funções governamentais para a concretização dos objetivos e das metas dos governantes eleitos. Bastaria que os manifestantes se informassem sobre o governo Collor para entender isso: Collor partiu das mesmas afirmações feitas por uma parte dos manifestantes (partido político é coisa de “marajá” e é corrupto) e se apresentou como um homem sem partido. Resultado: não teve quadros para montar o governo nem diretrizes e metas coerentes e deu feição autocrática ao governo, isto é, “o governo sou eu”. Deu no que deu.

Além disso, parte dos manifestantes está adotando a posição ideológica típica da classe média, que aspira por governos sem mediações institucionais, e, portanto, ditatoriais. Eis porque surge a afirmação de muitos manifestantes, enrolados na bandeira nacional, de que “meu partido é meu país”, ignorando, talvez, que essa foi uma das afirmações fundamentais do nazismo contra os partidos políticos.

Assim, em lugar de inventar uma nova política, de ir rumo a uma invenção democrática, o pensamento mágico de grande parte dos manifestantes se ergueu contra a política, reduzida à figura da corrupção. Historicamente, sabemos onde isso foi dar. E por isso não nos devem surpreender, ainda que devam nos alarmar, as imagens de jovens militantes de partidos e movimentos sociais de esquerda espancados e ensanguentados durante a manifestação de comemoração da vitória do MPL. Já vimos essas imagens na Itália dos anos 1920, na Alemanha dos anos 1930 e no Brasil dos anos 1960-1970.

Conclusão provisória

Do ponto de vista simbólico, as manifestações possuem um sentido importante que contrabalança os problemas aqui mencionados.

Não se trata, como se ouviu dizer nos meios de comunicação, que finalmente os jovens abandonaram a “bolha” do condomínio e do shopping center e decidiram ocupar as ruas (já podemos prever o número de novelas e minisséries que usarão essa ideia para incrementar o programa High School Brasil, da Rede Globo). Simbolicamente, malgrado eles próprios e malgrado suas afirmações explícitas contra a política, os manifestantes realizaram um evento político: disseram não ao que aí está, contestando as ações dos Poderes Executivos municipais, estaduais e federal, assim como as do Poder Legislativo nos três níveis. Praticando a tradição do humor corrosivo que percorre as ruas, modificaram o sentido corriqueiro das palavras e do discurso conservador por meio da inversão das significações e da irreverência, indicando uma nova possibilidade de práxis política, uma brecha para repensar o poder, como escreveu um filósofo político sobre os acontecimentos de maio de 1968 na Europa.

Justamente porque uma nova possibilidade política está aberta, algumas observações merecem ser feitas para que fiquemos alertas aos riscos de apropriação e destruição dessa possibilidade pela direita conservadora e reacionária.

Comecemos por uma obviedade: como as manifestações são de massa (de juventude, como propala a mídia) e não aparecem em sua determinação de classe social, que, entretanto, é clara na composição social das manifestações das periferias paulistanas, é preciso lembrar que uma parte dos manifestantes não vive nas periferias das cidades, não experimenta a violência do cotidiano experimentada pela outra parte dos manifestantes. Com isso, podemos fazer algumas indagações. Por exemplo: os jovens manifestantes de classe média que vivem nos condomínios têm ideia de que suas famílias também são responsáveis pelo inferno urbano (o aumento da densidade demográfica dos bairros e a expulsão dos moradores populares para as periferias distantes e carentes)? Os jovens manifestantes de classe média que, no dia em que fizeram 18 anos, ganharam de presente um automóvel (ou estão na expectativa do presente quando completarem essa idade) têm ideia de que também são responsáveis pelo inferno urbano? Não é paradoxal, então, que se ponham a lutar contra aquilo que é resultado de sua própria ação (isto é, de suas famílias), mas atribuindo tudo isso à política corrupta, como é típico da classe média?

Essas indagações não são gratuitas nem expressão de má vontade a respeito das manifestações de 2013. Elas têm um motivo político e um lastro histórico.

Motivo político: assinalamos anteriormente o risco de apropriação das manifestações rumo ao conservadorismo e ao autoritarismo. Só será possível evitar esse risco se os jovens manifestantes levarem em conta algumas perguntas:
  1. estão dispostos a lutar contra as ações que causam o inferno urbano, e portanto enfrentar pra valer o poder do capital de montadoras, empreiteiras e cartéis de transporte, que, como todos sabem, não se relacionam pacificamente (para dizer o mínimo) com demandas sociais?
  2. estão dispostos a abandonar a suposição de que a política se faz magicamente sem mediações institucionais?
  3. estão dispostos a se engajar na luta pela reforma política, a fim de inventar uma nova política, libertária, democrática, republicana, participativa?
  4. estão dispostos a não reduzir sua participação a um evento pontual e efêmero e a não se deixar seduzir pela imagem que deles querem produzir os meios de comunicação?

Lastro histórico: quando Luiza Erundina, partindo das demandas dos movimentos populares e dos compromissos com a justiça social, propôs a Tarifa Zero para o transporte público de São Paulo, ela explicou à sociedade que a tarifa precisava ser subsidiada pela prefeitura e que não faria o subsídio implicar cortes nos orçamentos de educação, saúde, moradia e assistência social, isto é, dos programas sociais prioritários de seu governo. Antes de propor a Tarifa Zero, ela aumentou em 500% a frota da CMTC (explicação para os jovens: CMTC era a antiga empresa municipal de transporte) e forçou os empresários privados a renovar sua frota. Depois disso, em inúmeras audiências públicas, apresentou todos os dados e planilhas da CMTC e obrigou os empresários das companhias privadas de transporte coletivo a fazer o mesmo, de maneira que a sociedade ficou plenamente informada quanto aos recursos que seriam necessários para o subsídio. Ela propôs, então, que o subsídio viesse de uma mudança tributária: o IPTU progressivo, isto é, o imposto predial e territorial seria aumentado para os imóveis dos mais ricos, que contribuiriam para o subsídio junto com outros recursos da prefeitura. Na medida que os mais ricos, como pessoas privadas, têm serviçais domésticos que usam o transporte público e, como empresários, têm funcionários usuários desse mesmo transporte, uma forma de realizar a transferência de renda, que é base da justiça social, seria exatamente fazer com que uma parte do subsídio viesse do novo IPTU.

Os jovens manifestantes de hoje desconhecem o que se passou: comerciantes fecharam ruas inteiras, empresários ameaçaram lockout das empresas, nos “bairros nobres” foram feitas manifestações contra o “totalitarismo comunista” da prefeita e os poderosos da cidade “negociaram” com os vereadores a não aprovação do projeto de lei. A Tarifa Zero não foi implantada. Discutida na forma de democracia participativa, apresentada com lisura e ética política, sem qualquer mancha possível de corrupção, a proposta foi rejeitada. Esse lastro histórico mostra o limite do pensamento mágico, pois não basta ausência de corrupção, como imaginam os manifestantes, para que tudo aconteça imediatamente da melhor maneira e como se deseja.

Cabe uma última observação: se não levarem em consideração a divisão social das classes, isto é, os conflitos de interesses e de poderes econômico-sociais na sociedade, os manifestantes não compreenderão o campo econômico-político no qual estão se movendo quando imaginam estar agindo fora da política e contra ela. Entre os vários riscos dessa imaginação, convém lembrar aos manifestantes que se situam à esquerda que, se não tiverem autonomia política e se não a defenderem com muita garra, poderão, no Brasil, colocar água no moinho dos mesmos poderes econômicos e políticos que organizaram grandes manifestações de direita na Venezuela, na Bolívia, no Chile, no Peru, no Uruguai e na Argentina. E a mídia, penhorada, agradecerá pelos altos índices de audiência.

Marilena Chaui é filósofa, professora na FFLCH da Universidade de São Paulo
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terça-feira, 21 de maio de 2013

Acordei doente mental: A quinta edição da “Bíblia da Psiquiatria”, o DSM-5, transformou numa “anormalidade” ser “normal”


Por Eliane Brum



A poderosa American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria – APA) lançou neste final de semana a nova edição do que é conhecido como a “Bíblia da Psiquiatria”: o DSM-5. E, de imediato, virei doente mental. Não estou sozinha. Está cada vez mais difícil não se encaixar em uma ou várias doenças do manual. Se uma pesquisa já mostrou que quase metade dos adultos americanos tiveram pelo menos um transtorno psiquiátrico durante a vida, alguns críticos renomados desta quinta edição do manual têm afirmado que agora o número de pessoas com doenças mentais vai se multiplicar. E assim poderemos chegar a um impasse muito, mas muito fascinante, mas também muito perigoso: a psiquiatria conseguiria a façanha de transformar a “normalidade” em “anormalidade”. O “normal” seria ser “anormal”.





A nova edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) exibe mais de 300 patologias, distribuídas por 947 páginas. Custa US$ 133,08 (com desconto) no anúncio de pré-venda no site da Amazon. Descobri que sou doente mental ao conhecer apenas algumas das novas modalidades, que tem sido apresentadas pela imprensa internacional. Tenho quase todas. “Distúrbio de Hoarding”. Tenho. Caracteriza-se pela dificuldade persistente de se desfazer de objetos ou de “lixo”, independentemente de seu valor real. Sou assolada por uma enorme dificuldade de botar coisas fora, de bloquinhos de entrevistas dos anos 90 a sapatos imprestáveis para o uso, o que resulta em acúmulos de caixas pelo apartamento. Remédio pra mim. “Transtorno Disfórico Pré-Menstrual”, que consiste numa TPM mais severa. Culpada. Qualquer um que convive comigo está agora autorizado a me chamar de louca nas duas semanas anteriores à menstruação. Remédio pra mim. “Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica”. A pessoa devora quantidades “excessivas” de comida num período delimitado de até duas horas, pelo menos uma vez por semana, durante três meses ou mais. Certeza que tenho. Bastaria me ver comendo feijão, quando chego a cinco ou seis pratos fundo fácil. Mas, para não ter dúvida, devoro de uma a duas latas de leite condensado por semana, em menos de duas horas, há décadas, enquanto leio um livro igualmente delicioso, num ritual que eu chamava de “momento de felicidade absoluta”, mas que, de fato, agora eu sei, é uma doença mental. Em vez de leite condensado, remédio pra mim. Identifiquei outras anomalias, mas fiquemos neste parágrafo gigante, para que os transtornos psiquiátricos que me afetam não ocupem o texto inteiro.

Há uma novidade mais interessante do que as doenças recém inventadas pela nova “Bíblia”. Seu lançamento vem marcado por uma controvérsia sem precedentes. Se sempre houve uma crítica contundente às edições anteriores, especialmente por parte de psicólogos e psicanalistas, a quinta edição tem sido atacada com mais ferocidade justamente por quem costumava não só defender o manual, como participar de sua elaboração. Alguns nomes reluzentes da psiquiatria americana estão, digamos, saltando do navio. Como não há cordeiros nesse campo, movido em parte pelos bilhões de dólares da indústria farmacêutica, é legítimo perguntar: perceberam que há abusos e estão fazendo uma “mea culpa” sincera antes que seja tarde, ou estão vendo que o navio está adernando e querem salvar o seu nome, ou trata-se de uma disputa interna de poder em que os participantes das edições anteriores foram derrotados por outro grupo, ou tudo isso junto e mais alguma coisa?



Não conheço os labirintos da APA para alcançar a resposta, mas acredito que vale a pena ficarmos atentos aos próximos capítulos. Por um motivo acima de qualquer suspeita: o DSM influencia não só a saúde mental nos Estados Unidos, mas é o manual utilizado pelos médicos em praticamente todos os países, pelo menos os ocidentais, incluindo o Brasil. É também usado como referência no sistema de classificação de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS). É, portanto, o que define o que é ser “anormal” em nossa época – e este é um enorme poder. Vale a pena sublinhar com tinta bem forte que, para cada nova patologia, abre-se um novo mercado para a indústria farmacêutica. Esta, sim, nunca foi tão feliz – e saudável.





O crítico mais barulhento do DSM-5 parece ser o psiquiatra Allen Frances, que, vejam só, foi o coordenador da quarta edição do manual, lançada em 1994. Professor emérito da Universidade de Duke, ele tem um blog no Huffington Post que praticamente usa apenas para detonar a nova Bíblia da Psiquiatria. Quando a versão final do manual foi aprovada, enumerou o que considera as dez piores mudanças da quinta edição, num texto iniciado com a seguinte frase: “Esse é o momento mais triste nos meus 45 anos de carreira de estudo, prática e ensino da psiquiatria”. Em carta ao The New York Times, afirmou: “As fronteiras da psiquiatria continuam a se expandir, a esfera do normal está encolhendo”.





Entre suas críticas mais contundentes está o fato de o DSM-5 ter transformado o que chamou de “birra infantil” em doença mental. A nova patologia é chamada de “Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor” e atingiria crianças e adolescentes que apresentassem episódios frequentes de irritabilidade e descontrole emocional. No que se refere à patologização da infância, o comentário mais incisivo de Allen Frances talvez seja este: “Nós não temos ideia de como esses novos diagnósticos não testados irão influenciar no dia a dia da prática médica, mas meu medo é que isso irá exacerbar e não amenizar o já excessivo e inapropriado uso de medicação em crianças. Durante as duas últimas décadas, a psiquiatria infantil já provocou três modismos — triplicou o Transtorno de Déficit de Atenção, aumentou em mais de 20 vezes o autismo e aumentou em 40 vezes o transtorno bipolar na infância. Esse campo deveria sentir-se constrangido por esse currículo lamentável e deveria engajar-se agora na tarefa crucial de educar os profissionais e o público sobre a dificuldade de diagnosticar as crianças com precisão e sobre os riscos de medicá-las em excesso. O DSM-5 não deveria adicionar um novo transtorno com o potencial de resultar em um novo modismo e no uso ainda mais inapropriado de medicamentos em crianças vulneráveis".





A epidemia de doenças como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) tem mobilizado gestores de saúde pública, assustados com o excesso de diagnósticos e a suspeita de uso abusivo de drogas como Ritalina, inclusive no Brasil. E motivado algumas retratações por parte de psiquiatras que fizeram seu nome difundindo a doença. Uma reportagem do The New York Times sobre o tema conta que o psiquiatra Ned Hallowell, autor de best-sellers sobre TDAH, hoje arrepende-se de dizer aos pais que medicamentos como Adderall e outros eram “mais seguros que Aspirina”. Hallowell, agora mais comedido, afirma: “Arrependo-me da analogia e não direi isso novamente”. E acrescenta: “Agora é o momento de chamar a atenção para os perigos que podem estar associados a diagnósticos displicentes. Nós temos crianças lá fora usando essas drogas como anabolizantes mentais – isso é perigoso e eu odeio pensar que desempenhei um papel na criação desse problema”. No DSM-5, a idade limite para o aparecimento dos primeiros sintomas de TDAH foi esticada dos 7 anos, determinados na versão anterior, para 12 anos, aumentando o temor de uma “hiperinflação de diagnósticos”.





Pensar sobre a controvérsia gerada pelo nova “Bíblia da Psiquiatria” é pensar sobre algumas construções constitutivas do período histórico que vivemos. Construções culturais que dizem quem somos nós, os homens e mulheres dessa época. A começar pelo fato de darmos a um grupo de psiquiatras o poder – incomensurável – de definir o que é ser “normal”. E assim interferir direta e indiretamente na vida de todos, assim como nas políticas governamentais de saúde pública, com consequências e implicações que ainda precisam ser muito melhor analisadas e compreendidas. Sem esquecer, em nenhum momento sequer, que a definição das doenças mentais está intrinsicamente ligada a uma das indústrias mais lucrativas do mundo atual.





Parte dos organizadores não gosta que o manual seja chamado de “Bíblia”. Mas, de fato, é o que ele tem sido, na medida em que uma parcela significativa dos psiquiatras do mundo ocidental trata os verbetes como dogmas, alterando a vida de milhões de pessoas a partir do que não deixa de ser um tipo de crença. Talvez seja em parte por isso que o diretor do National Institute of Mental Health (Instituto Nacional de Saúde Mental – NIMH), possivelmente a maior organização de pesquisa em saúde mental do mundo, tenha anunciado o distanciamento da instituição das categorias do DSM-5. Thomas Insel escreveu em seu blog que o DSM não é uma Bíblia, mas no máximo um “dicionário”: “A fraqueza (do DSM) é sua falta de fundamentação. Seus diagnósticos são baseados no consenso sobre grupos de sintomas clínicos, não em qualquer avaliação objetiva em laboratório. (...) Os pacientes com doenças mentais merecem algo melhor”. O NIMH iniciou um projeto para a criação de um novo sistema de classificação, incorporando investigação genética, imagens, ciência cognitiva e “outros níveis de informação” – o que também deve gerar controvérsias.





A polêmica em torno do DSM-5 é uma boa notícia. E torço para que seja apenas o início de um debate sério e profundo, que vá muito além da medicina, da psicologia e da ciência. “Há pelo menos 20 anos tem se tratado como doença mental quase todo tipo de comportamento ou sentimento humano”, disse a psicóloga Paula Caplan à BBC Brasil. Ela afirma ter participado por dois anos da elaboração da edição anterior do manual, antes de abandoná-la por razões “éticas e profissionais”, assim como por ter testemunhado “distorções em pesquisas”. Escreveu um livro com o seguinte título: “Eles dizem que você é louco: como os psiquiatras mais poderosos do mundo decidem quem é normal”.





A vida tornou-se uma patologia. E tudo o que é da vida parece ter virado sintoma de uma doença mental. Talvez o exemplo mais emblemático da quinta edição do manual seja a forma de olhar para o luto. Agora, quem perder alguém que ama pode receber um diagnóstico de depressão. Se a tristeza e outros sentimentos persistirem por mais de duas semanas, há chances de que um médico passe a tratá-los como sintomas e faça do luto um transtorno mental. Em vez de elaborar a perda – com espaço para vivê-la e para, no tempo de cada um, dar um lugar para essa falta que permita seguir vivendo –, a pessoa terá sua dor silenciada com drogas. É preciso se espantar – e se espantar muito.





Vale a pena olhar pelo avesso: quem são essas pessoas que acham que o “normal” é superar a perda de uma mãe, de um pai, de um filho, de um companheiro rapidamente? Que tipo de ser humano consegue essa proeza? Quem seríamos nós se precisássemos de apenas duas semanas para elaborar a dor por algo dessa magnitude? Talvez o DSM-5 diga mais dos psiquiatras que o organizaram do que dos pacientes.





Há ainda mais uma consequência cruel, que pode provocar muito sofrimento. Ao transformar o que é da vida em doença mental, os defensores dessa abordagem estão desamparando as pessoas que realmente precisam da sua ajuda. Aquelas que efetivamente podem ser beneficiadas por tratamento e por medicamentos. Se quase tudo é patologia, torna-se cada vez mais difícil saber o que é, de fato, patologia. Por sorte, há psiquiatras éticos e competentes que agem com consciência em seus consultórios. Mas sempre foi difícil em qualquer área distinguir-se da manada – e mais ainda nesta área, que envolve o assédio sedutor, lucrativo e persistente dos laboratórios.





Se as consequências não fossem tão nefastas, seria até interessante. Ao considerar que quase tudo é “anormal”, os organizadores do manual poderiam estar chegando a uma concepção filosófica bem libertadora. A de que, como diria Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal”. E não é mesmo, o que não significa que seja doente mental por isso e tenha de se tornar um viciado em drogas legais para ser aceito. Só se pode compreender as escolhas de alguém a partir do sentido que as pessoas dão às suas escolhas. E não há dois sentidos iguais para a mesma escolha, na medida em que não existem duas pessoas iguais. A beleza do humano é que aquilo que nos une é justamente a diferença. Somos iguais porque somos diferentes.





Esse debate não pertence apenas à medicina, à psicologia e à ciência, ou mesmo à economia e à política. É preciso quebrar os monopólios sobre essa discussão, para que se torne um debate no âmbito abrangente da cultura. É de compreender quem somos e como chegamos até aqui que se trata. E também de quem queremos ser. A definição do que é “normal” e “anormal” – ou a definição de que é preciso ter uma definição – é uma construção cultural. E nos envolve a todos. Que cada vez mais as definições sobre normalidade/anormalidade sejam monopólios da psiquiatria e uma fonte bilionária de lucros para a indústria farmacêutica é um dado dos mais relevantes – mas está longe de ser tudo.





E não, eu não acordei doente mental. Só teria acordado se permitisse a uma Bíblia – e a pastores de jaleco – determinar os sentidos que construo para a minha vida.







Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/05/acordei-doente-mental.html