sexta-feira, 28 de junho de 2013

O manifesto que não veio. WLADIMIR POMAR

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Esperava que o PT tivesse apoiado e conclamado sua militância, seus dirigentes e seus parlamentares a irem para as ruas desde o dia seguinte ao primeiro dia das manifestações. Como novos atos virão, nunca é tarde para que o partido retome seu antigo espírito de luta e mostre a que veio. Afinal, como temem alguns, o movimento que está nas ruas pode provocar uma reciclagem do PT pela esquerda
Os reacionários temem que essas manifestações provoque uma reciclagem do PT pela
Os reacionários temem que essas manifestações provoquem uma reciclagem do PT pela esquerda
Foto: Marcelo Camargo/ABr
Como antigo militante do PT, esperava que meu partido tivesse expressado publicamente, desde o dia imediato ao início das manifestações populares, em todo o Brasil, apoio às manifestações e conclamado sua militância, seus dirigentes e seus parlamentares a irem para as ruas. Supunha que era dever dessa militância petista participar ativamente da luta e contribuir para elevar a consciência política das centenas de milhares de manifestantes homens, mulheres, jovens, adultos, velhos, estudantes, funcionários de escritórios, operários, empregados no comércio e em serviços, desempregados, lúmpens e outros seres populares.
É verdade que grande parte da militância se incorporou às manifestações. Muitas direções setoriais, municipais e nacionais manifestaram-se em apoio. Mas a direção nacional do PT manteve-se em silêncio até poucos dias e se manifestou tardia e timidamente. (ver Nota do PT sobre o transporte público)
Assim, transcrevo o que esperava que o PT tivesse dito desde o primeiro dia ao povo brasileiro.
“O PT saúda os milhares de brasileiros que saíram as ruas para demonstrar sua insatisfação contra os aumentos das tarifas de transportes públicos, contra o aumento desmesurado dos alimentos e dos bens de consumo, contra a demora nos investimentos em educação, saúde, saneamento, moradia e outras áreas fundamentais, contra a corrupção e contra a discriminação antidemocráticas de governos que não consideram legítimas as manifestações públicas. O PT se coloca veementemente contra a repressão policial aos manifestantes e responsabiliza essa repressão pelos atos de vandalismo ocorridos durante ou após as manifestações populares.
O PT nasceu, entre os anos 1970 e 1980, como resultado de manifestações populares contra o aumento do custo de vida, a contenção dos salários e o regime ditatorial militar. O PT cresceu com seus militantes participando ativamente nas grandes manifestações populares pelas eleições diretas para a Presidência da República, pela anistia política e pela democratização do país. Sua participação nas eleições locais e presidenciais sempre foi marcada por grandes manifestações populares, em alguns casos reunindo mais de um milhão de pessoas.
Durante os anos 1990, o PT foi muitas vezes às ruas para lutar contra os descalabros promovidos pelos governos neoliberais. Lutou contra a privatização dos serviços públicos e das empresas estatais. Lutou contra as políticas que levaram à falência grande número de empresas nacionais. Lutou contra a monopolização da economia brasileira por grandes empresas multinacionais. Batalhou contra o desemprego, a pobreza e a miséria. E se empenhou na luta contra a corrupção e pela melhoria da educação, da saúde e das condições de vida do povo.
Portanto, o PT sempre participou das lutas e manifestações populares, considerando-as um direito democrático básico. E foi essa persistência que fez o PT contribuir decisivamente para a eleição de Lula, em 2002 e 2006, e de Dilma, em 2010. Nos últimos dez anos, o PT se esforçou para que o governo melhorasse as condições de emprego e de vida do povo. Não é o momento de enumerar o número de desempregados que voltaram a ter emprego, de miseráveis que passaram a ter condições de ter duas ou três refeições por dia e colocar os filhos na escola, nem os esforços realizados para o Brasil voltar a crescer, erradicar a corrupção da sociedade brasileira e melhorar a educação, a saúde e a moradia. O momento é de reconhecer que o PT, apesar de todos os seus esforços, não conseguiu manter seus laços estreitos com as grandes camadas da população brasileira e continuar medindo, como deveria, as ansiedades e as insatisfações dessas camadas, para atendê-las como razão de sua própria existência.
Com isso, não conseguiu avaliar como deveria as causas da subida dos preços de alimentos, bens de consumo e transportes públicos. Não pressionou o governo federal, como deveria, a dar mais atenção à agricultura familiar, para aumentar a produção de alimentos e baratear seus preços. Não pressionou os diversos níveis de governo a darem mais atenção aos investimentos em infraestrutura geral e urbana, e ao crescimento das indústrias de bens de consumo, com o mesmo objetivo de atender ao aumento do poder de compra e rebaixar os preços. E deu pouca atenção ao descalabro dos transportes urbanos e intermunicipais, herdado da quebradeira neoliberal, que transformou esse setor numa área de desatenção completa aos usuários e lucros exorbitantes dos empresários.
O PT reconhece seu pouco empenho em pressionar o governo a adotar uma política que desse menos estímulo à indústria automobilística de transporte individual. Este satura ainda mais as vias urbanas e piora a poluição e a mobilidade das pessoas. Deveria ter lutado com mais vigor para o governo investir pesadamente na ampliação da oferta de transporte coletivo. Isto teria melhorado a mobilidade urbana e reduzido as tarifas do transporte, o que reduziria as despesas com combustível e as pressões inflacionárias.
O PT acredita que estão errados os que pensam que o aumento de R$ 0,20 nos transportes públicos é uma questão de menor importância. O transporte público deficiente e caro sacrifica milhões de pessoas. Esse sacrifício se torna ainda maior com os engarrafamentos que entopem as estradas, avenidas e ruas e transformam a locomoção de cada dia num purgatório ou inferno. Por isso, apela a todos os governadores e prefeitos eleitos pelo PT a revogarem imediatamente a elevação das tarifas de transportes, no caso de as terem aumentado, e a ordenarem aos órgãos de segurança não reprimirem as manifestações. Ao mesmo tempo, conclama a todos os seus senadores, deputados federais e estaduais, e vereadores a se juntarem às manifestações populares e exercerem seus mandatos para impedir atos de violência policial contra os manifestantes.
Além disso, no caso específico dos transportes públicos, o PT exige de seus militantes em cargos públicos que examinam detidamente as planilhas de custos e lucros das empresas concessionárias, privadas e públicas. As manifestações populares contra o último aumento devem servir de lição. Esse serviço público não pode ser fonte de altos lucros à custa dos parcos recursos da população usuária e precisa deixar de ser indexado aos índices de inflação, o que vale para todos os estados e prefeituras do país.
O PT, desde já, se compromete a apoiar e participar da continuidade da luta popular pela redução das tarifas, pelo passo livre, e pela prioridade dos investimentos em áreas que são essenciais para melhorar o padrão de vida da população. Saneamento básico, educação, saúde, segurança, infraestrutura de transportes, e indústrias que aumentem os empregos são essenciais para transformar o atual padrão de vida doo país. O PT também se compromete a lutar ainda com mais tenacidade contra a corrupção, venha ela de onde vier.
Por tudo isso, apela aos manifestantes de agora, e aos que se incorporarem nos dias seguintes, que incluam em suas demandas as reformas políticas que impeçam a corrupção do dinheiro privado nas eleições e que imponham a fidelidade partidária. Que levantem alto a bandeira do fim dos monopólios, inclusive nas telecomunicações. E que exijam a queda dos juros e a taxação ou proibição da especulação financeira, como condição básica para impedir a inflação e aumentar os investimentos. De qualquer modo, com suas bandeiras vermelhas, ou sem elas, os petistas estarão corpo-a-corpo com os manifestantes de todo o Brasil”.
Era isso que esperava ter lido desde o dia seguinte ao primeiro dia das manifestações. Como novas manifestações virão, nunca é tarde para que o PT retome seu antigo espírito de luta e mostre a que veio. Afinal, como teme o ultrarreacionário Reinaldo Azevedo, os liberais de miolo mole deveriam colocar o burro na sombra porque o movimento que está nas ruas provocará uma reciclagem do PT pela esquerda. Para ele, isso é um perigo que poderá tornar o resultado das urnas ainda mais inóspito para a democracia deles, onde o povo não tem voz.
Wladimir Pomar é membro de Conselho de Redação de Teoria e Debate


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