sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Como Redigir Textos!!/www.soprando.net


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Por Aparecida Clemilda Porto*
A prática da escrita, em especial a Dissertação, é a forma mais solicitada às pessoas envolvidas com a produção de trabalhos acadêmicos e sua divulgação por meio, principalmente, de monografias, teses, ensaios, artigos e relatórios técnico-científicos.
Mas o que significa redigir um texto? E o que é dissertar?
Redigir um texto significa construir atos de interação. Assim como na fala, também pela escrita interagimos com o outro parainformar, expor idéiaspersuadir, convencer, entreter, enfim, para manter contato com um determinado interlocutor.
Assim, a prática de redigir textos tem como objetivo estabelecer um tipo de interação social, esta entendida como troca de ações entre indivíduos, uma vez que normalmente ninguém fala ou escreve apenas pelo simples fato de falar ou escrever:falamos/escrevemos para alguém, sobre determinado tema, com algum propósito.
A partir do entendimento dessas definições, podemos preocupar-nos com o modo de escrever ou falar. A dissertação, por exemplo, é um tipo de texto em que expõem-se idéias a respeito de determinado temadiscutindo e interpretando-as. modo de escrever está relacionado ao contexto de uso do texto e com o seu interlocutor. Como estamos falando da dissertação, no ato da escrita deste tipo de texto, devemos buscarlógica e clareza no desenvolvimento das idéias e obediência aos padrões de linguagem.
Estes são fatores de textualidade relacionados com o que chamamos de Coerência eCoesão textual. A Coerência “é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo ser vista como, pois, como um princípio da interpretabilidade do texto.” (Koch & Travaglia,1989).
Na prática como isso ocorre? Ao escrever um texto, é preciso considerar, primeiramente, o que, para quem e como escrever. Tendo o autor clareza de suas intenções, ele organiza seu texto, visando: a relevância do tema: para isso o repertório textual usado deve levar em conta que este deve ser partilhado pelo leitor; a progressão temática, isto é, na elaboração do texto precisa-se observar se o tema progride com o acréscimo de novas idéias; a informatividade, ou sejase o texto informa alguma coisa, se as informações não são redundantes, se há suficiência de dados para a interpretação do texto, se não há afirmações sobre o óbvio; a situacionalidade: observar a adequação de registro da língua, ou seja, se o vocabulário está adequado, se partes do texto exigem dados externos para a compreensão, se há emprego de clichês.
Outro aspecto relevante a se considerar é a estruturação formal: a) título: adequação título x conteúdo; b) estruturação do texto: organização em parágrafos: cada parágrafo deve expressar idéias completas; a divisão em parágrafos propicia a progressão do texto, evitando a repetição de afirmações; c) focalização, articulação entre orações e períodos justapostos, o que propiciará a construção da argumentatividade: o texto não deve desviar do ponto de vista apresentado e os exemplos devem se relacionar aos argumentos e estes ao ponto de vista principal.
Coesão é outro importante fator de textualidade, pois para que um texto esteja bem redigido e atinja plenamente seus objetivos – o de informar e interagir com o leitor – não basta que ele apresente boas idéias, mas também deve estar bem articulado. A articulação pode se dá no nível da frase e no nível do texto, ocorrendo por meio deconectivos e operadores lógicos.
Os elementos de coesão no nível da frase são os que se referem a termos já expressos no texto, como os pronomes pessoais, demonstrativos, possessivos, numerais, relativos, indefinidos, advérbios e expressões adverbiais, e também os que ligam orações, como asconjunções que estabelecem relações de temporalidade, causalidade, oposição, conclusão, finalidade etc. Já os elementos de coesão no nível do texto são elos lingüísticos que estabelecem relação entre parágrafos e partes maiores do texto, comointroduçãodesenvolvimento e conclusão. São também recursos que ligam partes do texto e parágrafos expressões como: por exemplo, dessa forma, por outro lado,seqüências de numerais como primeiro, em segundo lugar etc.
Veja no parágrafo abaixo como estes recursos são usados:
A TV é sistematicamente posta no papel de vilã. É claro que, pela sua força de penetração, ela tem o poder de interferir na formação de criança e do ser humano de modo geral. Entretanto, isso ocorre não porque é a televisão, massim porque ela representa o modelo cultural de sociedade.
Assim, se temos que nos preocupar com algo, não é com a TV, e sim com o que somos e passamos pela TV. (…) (Francisco B. Assumpção Jr. Folha de S. Paulo, 25/5/1997, Revista Folha. In. CEREJA. Willian Roberto Cereja. MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens. 2005, Atual Editora)
Os pronomes sua e ela são recursos coesivos referenciais, pois retomam o seu referente: a TV. O pronome demonstrativo isso faz referência à idéia apresentada na introdução do parágrafo, ou seja, ao poder de interferência da TV na formação das pessoas. Já os conectivos conjuntivos intra e interfrásticos, entretantomas e porque são conjunções que estabelecem relações de sentido de oposição e justificativa, respectivamente. E a conjunção Assim (introduzindo o 2º parágrafo) tem o papel de articulador no nível do texto, estabelecendo relação de conclusão com o parágrafo anterior. Além do uso dos elos coesivos, podemos perceber, no breve parágrafo mencionado, a articulação do texto por meio da introdução em que é apresentada a tese, ou idéia principal: a TV no papel de vilã; no desenvolvimento o autor apresenta a argumentação e a contra-argumentação: a interferência da TV na formação das pessoas e a razão disso ocorrer e na conclusão o fato da própria sociedade ser responsável pelo que é a TV.
Podemos dizer finalmente que escrever é um ato intencional tendo em vista um sujeito-leitor, o que torna específicos o conteúdo e a forma de expressão.
Bibliografia
CEREJA, Roberto William e MAGALHÃES, Thereza Cochar. (2002) Português: Linguagens. V.8. São Paulo: Atual
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça e TRAVAGLIA. Luiz Carlos. (1989) Texto e Coerência. São Paulo: Cortez
SERAFINI, Maria Teresa. (1989) Como Escrever Textos. Rio de Janeiro: Globo.
SOARES. Magda Becker e CAMPOS Edson Nascimento (1978) Técnica de Redação. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S/A
* Professora (aposentada) de Língua Portuguesa da Escola de Educação Básica da UFU; Mestre em Lingüística Aplicada/UFU
     

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